terça-feira, 20 de março de 2012

Emoções negativas: conhecê-las é o caminho para conviver com elas

Não desperdice agora a oportunidade de conhecer mais de perto suas emoções negativas. Acredite, pode fazer um bem danado

Atualizado em 04/11/2011

Reportagem: Liane Alves - Edição: MdeMulher
Ilustração Revista VIDA SIMPLES
Você jura que nunca teve vontade de torcer o pescocinho de alguém? Jogar torta na cara? Falar umas verdades? Pois perdeu uma grande chance
Foto: Reprodução Revista VIDA SIMPLES

Tenho um amigo que é totalmente zen. Ninguém tira o moço do sério. Foi despedido por causa de uma sacanagem feita por um colega de trabalho (e ele não conseguiu balbuciar uma frase sequer em sua própria defesa), vez por outra recebe em sua casa amigos que aparecem para ficar uma semana. Meu amigo não consegue expressar sua agressividade.

Num mundo onde a maioria não tem a menor cerimônia em arreganhar os dentes e abrir seus caminhos com os cotovelos, ele tem horror em ver nele mesmo essa reação primitiva que solapa a vida dos outros mortais (ele não, ele não...). Até que um dia, na minha casa, depois de umas três caipirinhas, meu amigo começou a despejar ódios e fúrias que provavelmente tinha guardado desde a infância. Depois de socar e socar, terminou chorando pelo verdadeiro motivo de sua ira: a incapacidade de entrar em contato com as emoções negativas.
 
Ele tinha encontrado cara a cara seu lado negro, sua sombra, de quem tinha tanto pavor a ponto de negar sua existência. A partir daquele momento, me assegurou, tudo era uma questão de calibragem. Pode ser imaginação minha, mas a partir desse dia passei a ver muito mais cor e vida em seu rosto.

É muito difícil mesmo mexer no caldeirão das bruxas. O problema é que o caldeirão das bruxas não está ali fora, está aqui dentro. O inferno agora não é mais só o outro. Dizia o psicanalista suíço Carl Jung que é melhor ser inteiro que ser bom. Mas, para atingir essa totalidade e alcançar essa integração, é preciso ter a disposição de dar o primeiro passo: encarar para valer o nosso lado negro da Força.

Lembra o Darth Vader do filme Guerra nas Estrelas? Alto, imponente, capa negra esvoaçante, voz sintetizada. E o capacete. Darth Vader não seria Darth Vader sem o capacete. Sua capacidade de espalhar terror, seu poder e seu fascínio vinham disso. O mago das trevas tirava sua força do que parecia ser, alguém poderoso e invencível, não do que realmente era, uma coisinha frágil, encolhida. Uma sombra que só tinha poder enquanto... sombra.

Nossas emoções negativas, como medo, ódio, raiva, ciúme, inveja, cobiça, rejeição, ansiedade, pena de si mesmo, fraqueza ou desejo de falar mal dos outros, entre outras, também são assim. "Elas parecem poderosas, invencíveis, mas se a gente descobrir como elas se formaram, de onde elas vêm e como funcionam, vamos ver que não passam de uma semente minúscula que se agigantou, alimentada por nós mesmos", diz a psicóloga paulista Maria Lúcia Albuquerque, especialista em terapia familiar. Quando nos damos conta de como tudo surgiu e o que realmente se esconde atrás desse tipo de emoção, todo o castelo que construímos a partir dela desmorona. E aí, bye-bye, sombra.

O jovem Luke lutava contra alguém que estava muito mais próximo do que ele próprio podia imaginar. Darth Vader não era uma pessoa de fora, mas de dentro, da família, alguém íntimo. As emoções negativas também estão associadas a nós, a nossa maneira de ver o mundo. "Não dá para dizer que elas são uma coisa e nós outra. Elas nos espelham", diz Maria Lúcia.

Outra boa indicação: o ódio de Darth Vader nasceu por causa de um sentimento de rejeição, experimentado ao ser excluído pela Força. O problema é que Darth Vader extrapolou. Ele poderia ter pegado a raiva do "ah, é assim, é?" e fundado uma versão bem mais moderna e sofisticada da Força. Como diria meu amigo, faltou calibragem. É o que geralmente nos falta mesmo ao lidar com nossas emoções.

O peso da balança

Uma pergunta fundamental é: quem, ou o quê, reage dentro de nós de forma tão automática? O que detona as emoções?

Os antigos gregos chamavam essa tendência reativa emocional de humores. Um tipo sanguíneo, por exemplo, normalmente reagiria exteriorizando abertamente sua raiva, seu ciúme, sua fúria. Um tipo mais bilioso (de bile, secreção do fígado) tenderia a remoer mais seus sentimentos. E um melancólico poderia sentir tristeza ou depressão.

As medicinas indiana e chinesa também se baseiam na idéia de que existem determinados padrões emocionais e energéticos que condicionam as pessoas desde o nascimento. Para os indianos, eles estão baseados em diferentes combinações de três forças: pita (fogo), vata (ar) e kapa (terra). Se uma pessoa é kapa kapa, por exemplo, vai ser calma e bonachona. Se é pita vata, elétrica e impaciente e assim por diante.
 
Para os chineses, os fatores de influência que regem os diferentes tipos humanos são relacionados aos cinco elementos: madeira, fogo, terra, metal e água, balanceados de acordo com a data em que nascemos. A astrologia (tanto a ocidental como a oriental) é outra tentativa de conhecer melhor esses padrões reativos emocionais, representados pelos signos.
 
O ponto em comum entre todos esses sistemas é que eles apontam para a mesma direção. Só há uma maneira de ultrapassar o padrão reativo emocional: é ter mais consciência dele. E, a partir disso, experimentar a possibilidade de outras reações, já não tão automáticas e mecânicas. É assim que se pode começar a equilibrar as emoções, a dosar sua ação e a fazer nossa auto-regulagem.

Mas se você, que me acompanhou até agora, ainda tem dúvidas de que é portador de um monte de emoções negativas, experimente o exercício proposto por um mestre sufi : lembre-se de olhar para dentro de si várias vezes por dia. Por exemplo, cada vez que passar por uma porta, preste atenção no seu coração. Em 90 por cento das vezes, a emoção que vai estar lá será negativa.
 
Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/bem-estar/reportagem/viver-bem/emocoes-negativas-conhece-las-caminho-conviver-elas-235799.shtml, em 20 Mar 2012
 
 

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